Carlyle <em>connection</em>

André Levy
O Grupo Carlyle tem vindo à baila a propósito da privatização de 33 a 48% da Galp Energia.
O que é o Grupo Carlyle e como se distingue de outros grupos financeiros? Carlyle é uma empresa de direito privado, que encontra investidores prontos a comprar acções de controlo de empresas em trocas privadas (à margem do mercado público). O lucro é obtido na revenda da empresa, ou partes da empresa, após 3 a 10 anos, por um valor superior ao da compra, em geral no mercado público.
A Carlyle tem investimentos por todo mundo, num valor superior a doze mil milhões de dólares, nas áreas de defesa, telecomunicações, energia, aeroespacial, isto é, em geral áreas que requerem investimento público. Como se tratam de negócios de risco, qualquer informação sobre o futuro do mercado da empresa a comprar é crucial para os investidores. É nesta área que a Carlyle se distingue e tem excelência. Ao integrar na sua direcção e entre os seus consultores, ex-membros de governos e funcionários públicos, a Carlyle é uma das empresas mais bem conectadas, com acesso privilegiado aos círculos internos do poder governante mundialmente, uma forma de «capitalismo de acesso»(1).
A Carlyle foi co-fundada por David Rubenstein, funcionário da administração de Jimmy Carter. A sua transformação deu-se em 1989, com a entrada de Frank Carlucci, que trouxe consigo a experiência de décadas de serviço público (entre os vários cargos que ocupou na sua carreira, incluem-se director deputado da CIA, embaixador dos EUA em Portugal, conselheiro de Segurança Nacional e secretário de Defesa de Reagan) e inúmeros contactos em Washington. Sob a sua direcção, a Carlyle aproveitou o fim da Guerra Fria e investiu seriamente na área da Defesa. No espaço de 3 anos, controlava a BDM Consulting, United Defense, LTV Corp e Vinnell (a companhia que desde 1975 treina a Guarda Nacional da Arábia Saudita), e torna-se numa das mais importantes firmas contratadas na área de Defesa. E Carlucci trouxe para a Carlyle o ex-secretário de Estado James Baker III.

Políticos e capital

Baker e Carlucci lograram atrair inúmeros políticos de todo o mundo para posições de direcção ou consultoria, incluindo o ex-president Bush, o ex-primeiro ministro John Major, e o ex-presidente das Filipinas, Fidel Ramos. Entre os consultores contam-se também inúmeros ex-executivos de corporações como a Boeing, BMW e outras multinacionais; ex-banqueiros como o ex-presidente do Bundesbank, Karl Otto Pohl, e o ex-tesoureiro do Banco Mundial, Afsaneh Beschloss. Além disso, membros da direcção da Carlyle detêm postos na direcção de inúmeras outras firmas. Carlucci, por exemplo, está na direcção de outras 32 firmas. Com tamanha equipa de estrelas e ligações, a Carlyle tem uma posição ideal para influenciar as políticas de governos e para receber informações privilegiadas sobre o desenvolvimento do mercado, em particular sobre áreas que venham a receber investimento público e a oferecer (ou cancelar) contratos, e qual o momento ideal para comprar e vender empresas. Estas ligações, por outro lado, oferecem incentivo aos investidores, que vêem na Carlyle um investimento seguro.
Entre os investidores encontram-se os bancos de investimento, seguradoras, fundos de pensões públicas e investidores privados do Brunei, Kuwait e Arábia Saudita. Com o peso e persuasão de Baker e Bush, a Carlyle recebeu mais de mil milhões de dólares em contractos e 80 milhões em investimento directo da família real saudita e outros investidores sauditas(2), incluindo 2 milhões de dólares da família bin Laden que a firma devolveu após o 11 de Setembro como medida de relações públicas.
Com investimentos sobretudo nos EUA, Médio Oriente e Ásia, a Carlyle tem também interesses no mercado europeu, onde a sua estratégia é formar companhias transnacionais que sejam competitivas globalmente. No teatro português, a Carlyle integra o consórcio Luso-Oil, que inclui como parceiros portugueses o BES e a CGD, e que juntamente com os grupos CVC, Viacer e Mello concorrem à compra das acções da Galp Energia. Mas com a ajuda de amigos com influência no governo. O porta-voz da Luso-Oil é Angêlo Correia, presidente da Fomentinvest e ex-ministro da Administração Interna e dirigente do PSD. E o ex-ministro de Negócios Estrangeiros de Durão Barroso, Martins da Cruz, admitiu ter «dado algumas opiniões» sobre a empresa energética à Carlyle(3). Entretanto, a Carlyle deverá ter um reunião em Lisboa para discutir alegações que um dos seus investidores, a Corporação Saudita BinLaden, segue financiando Osama bin Laden(4).

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) The Access Capitalists, por Michael Lewis, The New Republic 18 de Outubro 1993
2) «House of Bush, House of Saud: The Secret Relationship Between the World's Two Most Powerful Dynasties», por Craig Unger, Scribner, 2004
3) Público - Última hora 11 de Maio 2004
4) Portugal New 3 de Abril 2004


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